quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A MÚSICA PAROU




Li em algum lugar que cada um de nós tem sua missão nessa vida e até pouco tempo atrás eu sabia qual era a minha.
Fiz diversas canções, muitas delas gravadas e conhecidas do grande público, até que chegou o dia em que as multinacionais compraram todos os horários nas rádios, fazendo tocar somente o que era do seu interesse (a maior parte, músicas americanas), em seguida apareceram os camelôs e finalmente, a popularização da internet, abrindo para downloads gratuitos.
Segundo a filosofia das multinacionais radicadas no Brasil “o brasileiro é ignorante, não tem cultura musical, portanto o que tocar, ele compra”. O tiro saiu pela culatra. O dinheiro investido em horários de rádios para que tocassem músicas dessas gravadoras multinacionais, jamais foi recuperado por elas. Apareceram os camelôs, que em troca de um real ou dois, vendiam qualquer CD. Muito mais barato que o preço cobrado em qualquer loja de venda de CD, porém, não repassado as gravadoras, compositores, cantores, etc. Foram feitas várias campanhas para que o público não comprasse dos camelôs, mas o publico descobriu que pela internet, se pode fazer download de qualquer gravação e é gratuito. Os camelôs perderam e as multinacionais fecharam as portas.
Nos dias de hoje, a maioria dos nossos grandes cantores não tem mais contrato com gravadoras, compositores, músicos, arranjadores, estão em pânico e toda uma equipe que trabalhava dentro de gravadoras, perdeu seu emprego. Nosso navio está á deriva, apesar das informações que num futuro não muito distante, o comércio da música vai se restabelecer com a venda de downloads. Quando isso acontecerá no nosso país? Daqui dez anos? Vinte? E até lá, o que vai acontecer com nossos artistas?
Até pouco tempo atrás eu sabia qual era minha missão, hoje eu desconfio que estava enganada. Minha missão talvez seja cair e levantar, driblar, ousar, defender e atacar, mudando o jogo todos os dias. Em resumo; ser artista, como todos os brasileiros. E em vários sentidos.

7 comentários:

Vanderhugo disse...

É muito triste isso de que o país não tem cultura musical. Na verdade, o que falta é criar condições para que a boa música chegue até os brasileiros. Temos uma infinidade de exelentes músicos, uma enormidade de jovens talentos aparecendo e são relegados a segundo plano, om argumento de que não seriam comerciais. Ora, todos gostam de uma boa música. Mas nem todos tem acesso a ela. Ouvi de uma amiga um comentário sobre a minissérie "Maysa", mais ou menos assim: "nossa, não sabia da existência dessa cantora!" E eu me pergunto: a culpa é de quem? A globo exibiu, há algum tempo, a minissérie "Chiquinha Gonzaga", certamente que milhares de brasileiros jamais havia ouvido a respeito dela. Não faz muito tempo, houve um especial sobre Dolores Duran, mais uma que milhares sequer suepeitava de sua existência. Se as pessoas escutam e gostam, porque a desculpa de só investir em coisas de baixa qualidade e linguagem chula como vem sendo feito? Bem feito para as multis, bem feito para os camelôs que ajudam a emburrecer o povo. A única coisa que ainda dói é que a internet também emburrece... que pena...

Isolda disse...

Pois é Vander, e como sempre o povo paga uma conta que não é dele, enquanto recebe com todas as honras nossos invasores, musicais ou não. Não é a toa o desinteresse em dar cultura ao povo. Um povo que não tem cultura é mais facil de ser administrado e não cobra o que lhe é devido, certo? Obrigada pela sua opinião. Beijos

Anônimo disse...

Isolda, além de todas essas pedras atravessadas no caminho do artita brasileiro, tão bem lembradas por você, padecemos também da quase ausência da preservação da memória dos que fazem arte neste país. Não é crível que um instrumentista/compositor do quilate de Jacob do Bandolim, morto em agosto de 1969, após o primeiro homem pisar a lua, só tenha 15 segundos de seus movimentos registrados para a eternidade, e isto concedendo uma mera entevista sem áudio, sem fazer o que lhe tornou consagrado no mundo inteiro: o toque mágico do seu bandolim. A propósito, gostaria de saber se existe alguma imagem animada do nosso querido Milton Carlos, porque,parece-me, por ocasião do seu desencarne, foram mostradas algumas dele no Jornal Nacional (tenho quase certeza), ou é piração minha, pois eu era muito jovem naquela época.
Sou admirador de vocês até o fim dos meus dias. Um Beijo emocionado.
Fco. Carlos (Titá).

Rosane Queiroz disse...

Oi Isolda!

O navio pode estar 'a deriva, mas a sua missao, tenho certeza, foi e sempre será compor músicas maravilhosas

ainda que voce tenha 1001 outras habilidades...

beijos, RO

Isolda disse...

Oi Francisco Carlos,
Vc tem toda a razão, em relação a pouca memória do nosso povo e ao pouco interesse , devido talvez a falta de incentivo a cultura. Infelizmente não tenho nenhuma imagem em movimento do meu irmão, o que é uma lástima. Já tentei encontrar, mas é praticamente impossivel. Quem sabe um dia eu consiga...
Muito obrigada por suas palavras e sua admniração.
Um beijo grande

Isolda disse...

Oi Ro,
Pois é, fazer músicas deixou de ser profissão (no meu caso) pra se tornar um hábito. O que aconteceu e continua acontecendo com a musica me deixa triste, assim como tambem deixou tristes todos os envolvidos com esse trabalho. Mas a coisa vai mudar, isso eu sei. O problema é só um: Quando.
P.S. Adorei o post sobre Henri Salvador, eu tambem amo essa música
Beijos

Anônimo disse...

Nobre colega Isolda,

A modernidade traz muitos benefícios, mas sempre alguém estará sendo prejudicado em nome do progresso. Vamos citar apenas alguns casos no mundo da arte. Quando surgiu a televisão houve uma queda na freqüência dos cinemas e o fechamento de centenas de salas de exibições, ocasionando o desemprego de milhares de trabalhadores do segmento. O surgimento de órgãos elétricos, uma verdadeira orquestra móvel, desempregou outra leva de trabalhadores, desta vez os músicos foram as vítimas. Cantores, compositores e os demais profissionais do gênero começaram a ser atingidos mais fortemente à medida que a informática foi evoluindo. Esse caminho não tem volta. O único jeito é procurar usar esses mesmos recursos para o nosso próprio benefício. A habilidade, o talento e a criatividade são as nossas melhores ferramentas para combater esse inimigo. Enquanto isso, os órgãos de classes devem se mobilizar para pressionar os legisladores para criar normas que venham produzir efeitos positivos nos segmentos mais prejudicados.

O poder de criação, a matéria prima do artista, não deve ser atrofiado, principalmente os dos legítimos artistas e não aqueles que apenas usam o crachá de artista. Não desista nunca da sua arte, faça como um bom atacante de futebol, que mesmo marcado às vezes de forma desleal não desiste da sua missão que é marcar o gol. Continue marcando os seus gols. Enfim, se a música parar continue dançando.

Um grande abraço