sexta-feira, 14 de novembro de 2014

IRONICA

Entre tantas músicas que meu irmão e eu fizemos, uma em especial foi inesquecível, principalmente por não ter sido feita exatamente por nós dois.
Eu explico; Meu bisavô materno era maestro, compositor e meu avô também. Meu bisavô é responsável por hinos de varias cidades de São Paulo e gravações com alguns grandes cantores da sua época (Francisco Alves, por exemplo). Meu avô não teve a mesma sorte por ter morrido cedo demais, com 30 anos. Mesmo assim, deixou canções lindíssimas, algumas vendidas por meu tio e que até hoje ouço tocar. Portanto, meu irmão e eu herdamos esse lado musical, com muita alegria e orgulho.

Uma noite, nos idos dos anos 70, olhei para cama onde meu irmão dormia e estava vazia. Cadê meu irmão? Levantei, fui até a sala, nada. Fui até a cozinha e ouvi um som de violão vindo do quarto de despejo (que era reservado para estocar mantimentos, onde havia também, um sofá cama). Ele estava lá, sentado com o violão, papel e caneta e me olhou meio que assustado.
- Musica nova? Perguntei
- Você não imagina o que aconteceu, respondeu ele. Sonhei com vovô. Ele estava regendo uma grande orquestra, que tocava uma música linda. Acordei e me lembrei da música inteira. Estou aqui colocando a letra.
- Foi um presente que ele mandou pra você, eu disse.
- Foi o que eu pensei. Você também acha?
- Foi sim, concordei. Toca pra mim?
E ele tocou a melodia que viria a ser “Irônica”, uma canção que ganharia muitos festivais.
Essa musica foi editada só em nome do meu irmão. O certo seria colocar o nome do meu avô como parceiro. Mas como explicar, uma musica feita por um compositor morto nos anos 30?  Foi melhor aceitar o presente e todas as vezes que essa musica ganhava nos festivais que participávamos, lembrávamos dele e em silencio, a gente agradecia a ajuda, o presente, a herança musical.