Entre
tantas músicas que meu irmão e eu fizemos, uma em especial foi inesquecível, principalmente
por não ter sido feita exatamente por nós dois.
Eu
explico; Meu bisavô materno era maestro, compositor e meu avô também. Meu
bisavô é responsável por hinos de varias cidades de São Paulo e gravações com
alguns grandes cantores da sua época (Francisco Alves, por exemplo). Meu avô
não teve a mesma sorte por ter morrido cedo demais, com 30 anos. Mesmo assim,
deixou canções lindíssimas, algumas vendidas por meu tio e que até hoje ouço tocar.
Portanto, meu irmão e eu herdamos esse lado musical, com muita alegria e
orgulho.
Uma
noite, nos idos dos anos 70, olhei para cama onde meu irmão dormia e estava
vazia. Cadê meu irmão? Levantei, fui até a sala, nada. Fui até a cozinha e ouvi
um som de violão vindo do quarto de despejo (que era reservado para estocar
mantimentos, onde havia também, um sofá cama). Ele estava lá, sentado com o
violão, papel e caneta e me olhou meio que assustado.
-
Musica nova? Perguntei
-
Você não imagina o que aconteceu, respondeu ele. Sonhei com vovô. Ele estava
regendo uma grande orquestra, que tocava uma música linda. Acordei e me lembrei
da música inteira. Estou aqui colocando a letra.
-
Foi um presente que ele mandou pra você, eu disse.
-
Foi o que eu pensei. Você também acha?
-
Foi sim, concordei. Toca pra mim?
E
ele tocou a melodia que viria a ser “Irônica”, uma canção que ganharia muitos
festivais.
Essa
musica foi editada só em nome do meu irmão. O certo seria colocar o nome do meu
avô como parceiro. Mas como explicar, uma musica feita por um compositor morto
nos anos 30? Foi melhor aceitar o
presente e todas as vezes que essa musica ganhava nos festivais que participávamos,
lembrávamos dele e em silencio, a gente agradecia a ajuda, o presente, a
herança musical.